Há mais de 20 anos que frequento o VP em diferentes regiões, casas e ateliers - só p'ra terem uma ideia, quando primeiro o conheci era magrinho - nunca o vi pintar, mesmo.
Se bem convivo com trinchas, usadas e por estrear, aparafusadas a cabos de vassoura e penduradas confortavelmente num móvel improvisado com rodas - e é que no VP mais ou menos tudo é improvisado e com rodas - com os pesados rolos de tela virgem de linho, com manchas coloridamente desavergonhadas no chão por todo lado, com o engradeamento de novos trabalhos e outros primos a enfeitarem paredes inteiras... nem uma vez só contemplei o íntimo acto.
Fui e sou testemunho e (quero pensar) às vezes cúmplice de quase todos os restos. Coisas algumas milagrosamente invisíveis, aparentemente inúteis e maiormente de natureza espontânea, sem as quais a pintura não teria as condições necessárias para se manifestar como ela o faz.
É à volta desse universo profundamente caótico, enraizadamente contraditório (não há contradição pois), impregnado de muitos vícios autodestrutivos (visualizar a morte relaxada a dar uma passinha), generoso nas frases feitas assim como naquelas ainda por fazer, é à volta deste universo repito que eu poderei escarafunchar umas palavritas.
[...] Sensualidade e a união entre gratidão e generosidade, disse o VP no outro dia ao almoço... e quanto a mim, não interessa se a frase é de cunho próprio e praticada como Koan-vivo reflectindo-se em cada gesto do (ser) artista, ou se foi resgatada de algum livro-panfleto-comentário-do-face terapêuticos de libertação sexual última ou proferida pelo derradeiro shaman-guru ao uso, o importante está na forma sentida e honesta quanto fresca como foi dita... REF fingidor.
A pintura do VP também é assim que eu a sinto, que a vivo... sem a catrefada de teoria transcendental, sem ego, desatada, destapada, despojada e ao mesmo tempo atenta, brincalhona, provocadora, pulsante... Uma pintura grávida do seu próprio caminhar, à descoberta do que ela é, curiosa, viva! Uma pintura a deixar-se ser contemplada, a deixar-se ser realizada em cada novo olhar - pois quem olha sempre igual p'rás coisas já está um bocado morto - uma pintura a deixar-se parir a exprimir- se por um indivíduo tal como o VP. Não digo mais se não estrago tudo.
Gashô
maxr ASZ Fev 2016
observações:
Por ocasião da inauguração da exposição será apresentado o vídeo "Wonderworld" de Vitor Pomar, 2017 (duração 17´46", cor e som)O Ar.Co é apoiado por:
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