Segundo Programa do CineClube Ar.Co - A Cidade Sensorial
O filme da sinfonia da cidade emergiu na década de 1920, exibindo a grandeza da produtividade e do progresso através de um estilo de montagem que imitava o rolar da engrenagem do tempo na nova e empreendedora urbe.
Afastando-se do personalizado e focando-se na esfera mais vasta da paisagem urbana, os filmes punham em cena um corpo humano que não era já o da emoção e da individualidade mas o da destreza técnica, cujo tempo e movimento uniformes se sincronizavam com a humanidade no seu todo, com as máquinas e com a cidade.
Este cinema foi criticado pelo seu carácter impessoal – e pela sua redução do corpo humano ao corpo de uma máquina. Mas visto de um outro prisma, o seu uso de um tempo cinemático que replica a aceleração e desaceleração do dia de trabalho permitia um novo entendimento do ambiente urbano: a cidade tinha uma pulsação, passível de se acordar com os ritmos internos do corpo humano através do tempo cinematográfico.
A industrialização deu lugar, no presente, ao digital e aos automatismos tecnológicos – que já não requerem a presença operativa de um corpo humano para fazer rolar os maquinismos. Pelo contrário, a sincronização do movimento humano alterou-se para favorecer os resultados do sedentarismo individual.
O salto da modalidade rítmica do industrial para a que se lhe seguiu despertou a nossa atenção para as fissuras no tecido das cidades: marginalização, isolamento e divisões, que não são imposições apenas sociais, mas geográficas e estruturais.
No mundo do tempo fraccionado e desarticulado das 24 horas/7 dias por semana, como pode a linguagem fílmica desvendar as correntes sensoriais e efémeras dos nossos ambientes naturais e urbanos construídos, de um modo que nos permita conectar com novas pulsações?
O programa do CineClube deste ano dedicar-se-á a filmes que explorem o ambiente urbano, da década de 1920 até ao presente, mostrando os modos como o filme interage com o bater do coração urbano.
A nossa primeira sessão considera metodologias introduzidas nos primeiros filmes de “sinfonia da cidade”, metodologias que assinalam um movimento da subjectividade do individual para as marés e refluxos da urbanidade. Do alto dos arranha-céus de "Manhatta" (1921) de Paul Strand, à interconectividade de um dia na vida de Paris em "Rien Que Les Heures" (1926) de Alberto Cavalcanti e à sincronicidade entre os ambientes naturais e construídos de "Douro, Faina Fluvial" (1931) de Manoel de Oliveira – este programa de curtas metragens explora os novos modos através dos quais os realizadores compreenderam o maquinismo em movimento das cidades.
“Manhatta” (1921) - Dir. Charles Sheeler & Paul Strand – 10´
“Rien Que Les Heures” (1926) - Dir. Alberto Cavalcanti – 45´
“Douro, Faina Fluvial” (1931) - Dir. Manoel de Oliveira – 21´
observações:
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